domingo, 22 de outubro de 2023

Jataí (Jati)






Abelhinha Jataí aboletou-se na tulipa de cerveja. 
Escorregou na loira espumosura de cor dourada, iniciou-se imediatamente num afogamento, porém foi salva através de um guardanapo. 
Bebedamente creu que conseguira safar-se. 
Antes, pernejou ativamente sobre o tampo blanc d’argent. Nem tanto! Espanava as asinhas com lúcida determinação. Salva da morte, a abelhinha remexeu-se toda, permaneceu assim alguns segundos. 
Deus teria enviado uma estrela para guiá-la. 
Em seus lequebros, incoativa, extricou-se de seus entraves. 
Acatitou-se. Voou para longe do perigo.


Palasathenaanamariajorio, 03.04.2016.

domingo, 24 de setembro de 2023

A dor da gente não é publicada em jornal

 A dor não vem publicada nos letreiros do mundo.É dor da gente, somente. Todo o mundo sente dor.  Alguns, menos. Outros, mais.
 Estávamos numa lanchonete ( eu e o Paulo) e uma jovem com uma criancinha ao colo ofereceu-nos trident num cesto de vime. Como não nos manifestamos, ela se afastou. Li naqueles olhos fundos alguma coisa que me fez levantar e ir procurá-la com uns poucos trocados...poucos mas necessários.
  A dor dos outros é nossa também; de certa forma.     Palas Athena

domingo, 18 de março de 2018

À espera dEle



Sentei-me no sofá da sala
E abri a porta
Para esperar o sol
Eu vivo à espera dele

Em meus sonhos
Há sempre um sol
Há luz e calor e doçura
num jardim florido de sol

Mas as horas foram passando
e veio a chuva, quanta chuva!
Que deixa branca a poesia
Que torna escuro o céu
Que emudece a melodia
Dentro do coração

Fechei a porta, então
Tranquei a janela
Guardei a felicidade dentro de um livro
Vou esperar pela segunda-feira
Que não deve tardar
Será que verei o sol?

Palasathenaanamariajorio, 25.02.2018.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Despedida do Rei






O verão nos empurra
nestas deliciosas vadiações do espírito.
Miríades de reflexos
na efervescência do sol.
Sonho e realidade.
A quem não foi dado sonhar,
imagino que não reste mais nada a fazer.
Busco luzes.
Fogos fátuos de uma felicidade
inventada no verão.


Palasathenaanamariajorio, 07.03.2018


    11.03.2017 Foto na Beira-Mar , Fortaleza, Ceará. Salve o poeta e escritor José de Alencar
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sábado, 10 de junho de 2017

Prece do Cãozinho




Eu estou tão sozinho
Vem me livrar do abandono
Vem me trazer o sol
Meu coração não tem dono


Vem me aquecer neste outono
Cai a noite e é assim
Essa lua sobre mim
Cai a chuva sobre mim


Minha casa não tem teto
O meu teto tem estrelas
Que me guiam aonde há luz


Tenho fome, tenho frio, tenho sono
Tenho também muito amor
Você não quer ser o meu dono?


Me sinto triste de noite
Atrás da luz que não acho
Sou viajante querendo chegar
Sou um amigo querendo se dar.




(Inspirado em Flávio Venturini-Anjo Azul) Palasathenaanamariajorio,06.06.2017

sexta-feira, 24 de março de 2017

Chove II




Chove.
Chove lá fora...
chove aqui, dentro. 
Sinto na boca o gosto salgado da chuva
Que não para. 

A noite desdobrando os seus véus no céu,
Se aproxima...
E chove. 

Onde se escondeu o Sol, o soberano,
Com suas reverberações, brilhos de luz?
O Sol, com seus orvalhos de ouro, que esplende
E nos cega de felicidade? 

Mas chove.
Meu coração, empedernido, espera
Um Sol que, hoje, não vai aparecer. 
Quem sabe, amanhã? 

Chove, ainda chove
De um jeito de não acabar nunca.



Palasathenaanamariajorio, 18.03.2017.

Chove I




Chove furiosamente.
Cordas d´água em bátegas,
Vindo diluviar a minha vida,
Copiosas, frias, invasivas.

Isso me assombra...
Garras de aço que inundam
A terra cansada e quente,
E vão além das minhas angústias.

Isso me assombra.



Palasathenaanamariajorio, 03.03.2017

terça-feira, 21 de março de 2017

Se quiseres me encontrar



Se quiseres me encontrar,
Não me procures num lugar qualquer.

Estarei nas profundezas, em grutas subterrâneas
Que eu mesma criei para me esconder.

Estarei na cintilância das estrelas.
Virás na minha direção, 
tu que és o sol, o vento, as gotas de chuva.

O teu caminho te conduzirá a mim.
Porém, jamais te perderei de vista.
Inda há pouco, quando levava água para as plantinhas no quintal,
Era em ti que eu pensava.

Tu sempre estarás em mim.


             Palasathenaanamariajorio,20.03.2017
               Coleção: Saudade que mata
   
         


terça-feira, 5 de abril de 2016

Devaneios



As palavras são desnecessárias. Concentro-me em tudo que gira dentro do meu espírito. Sou um pouco das coisas que gostaria de ter esquecido. Às vezes, esqueço-me do presente, do que é real e aparente, imagino-me num mundo além das inquietações que me cercam. 
São as possibilidades de fuga, na verdade, sonhos, devaneios, pensamentos cheios de segredos, silêncios muito bem guardados dentro da alma, embebidos em tempos longínquos, trancados, vez por outra soltos na mente, borboleteando, recirculando em ziguezague... reaparecendo, plumas sopradas pelo vento de um passado distante. 
Logo vão embora, bolhas no ar do esquecimento.

Palasathenaanamariajorio, 27.04.2015.